O jovenzinho universitário

Quando um jovenzinho entra na universidade hoje, a primeira coisa que ele faz é abandonar o aprendizado familiar e religioso e cair de cabeça no mundo bizarro da relativização total, da negação da verdade absoluta e da realidade objetiva, da ojeriza aos valores morais tradicionais e da eliminação de qualquer noção de transcendência da mente e do espírito. Aliás, eliminam a noção mesma de espírito, salvo raras exceções, quando o espírito de que tratam é o “espírito do mundo” de Hegel, ou algum “espírito da natureza” panteísta, ou espíritos mal assombrados de filmes de terror.

Quando o jovenzinho cai nessa realidade do absurdo como norma, ele está preso numa teia como um inseto. Tudo o que ele enxerga daí por diante é do ponto de vista do inseto que não vê o que está atrás, ou em cima, ou em baixo. Enfim, é um pobre iludido.

Mas o que faz o aluno ser iludido e não perceber que está sendo enganado? Os criadores dessas teias de absurdidades e delírios criam mecanismos de defesa nos seus capturados, fazendo-os pensar que, na teia, eles estão livres, e pior, que estão lutando contra o mal do mundo. Fazem-os acreditar que são guerreiros da justiça. Qualquer pessoa que tente tirá-los dessa realidade absurda será visto como um inimigo que quer enganá-los e levá-los para o lado do mal. Então os coitadinhos entram num círculo vicioso. São escravos da lógica falsa que eles mesmos retroalimentam na suas cabecinhas ocas.

Mas quem está por trás dessa lógica perversa? Quem cria essa teia? Não é fácil responder. O que dá pra responder é que existe gente muito poderosa por trás desse lobby de emburrecimento massivo dos estudantes universitários. E por que os estudantes universitários? Porque eles serão os futuros professores, os futuros profissionais de maior destaque, os futuros formadores de opinião da sociedade e provavelmente os futuros políticos. O interesse em privar dos universitários os ensinamentos das ciências genuínas de antes e substituí-las por ideologias modernas e novos modelos de interpretação da realidade é muito grande.

E o que são essas ideologias modernas e novas formas de enxergar o mundo? São modos de se eliminar obstáculos indesejáveis nos planos de governo mundial já estabelecidos pela ONU e outros organismos internacionais, controlados por esquemas globais de poder. Isso é teoria da conspiração? Não. Isso já não é mais segredo. “O rei está nu”.

A maior preocupação dessa “elite global” é com relação as tradições e a religião (principalmente a cristã), e com o modelo familiar de organização social. A família e os valores cristãos são um imenso empecilho pra essa gente. Por quê? Também não é simples responder, mas em poucas palavras, o cristianismo é anti-revolucionário por natureza, pois “Meu Reino não é deste mundo”, como disse o próprio Jesus Cristo. Os cristãos não estão tão preocupados assim com as experiências sociais macabras que os globalistas tentam realizar dia e noite a fim de criar aqui na terra o paraíso. Isso para o cristão é, na verdade, uma blasfêmia. O paraíso vem depois, e não agora. Essa vida é uma provação e devemos passar por ela da melhor maneira possível, não tentando revolucionar o mundo a qualquer custo (inclusive pela matança, como ocorreu nas revoluções modernas), mas imitando os modelos de santidade que nos foram fornecidos por Deus. O cristão acredita que fazer isso já é criar um mundo melhor, e talvez isso seja a forma própria do cristianismo de revolucionar o mundo, como de fato revolucionou.

Mas essa revolução cristã não interessa aos poderosos, porque não lhes dá poder. Pelo contrário, retira. O interesse deles é acumular cada vez mais poder de forma centralizada, e por isso a destruição da família é o passo mais importante, porque é a principal resistência contra a tirania do absolutismo mundial. Como explica bem o príncipe imperial do Brasil, Dom Bertrand, existe um princípio, chamado princípio de subsidiariedade, que ordena de forma lógica, harmoniosa e orgânica o tecido social. Tal princípio diz que as atribuições do município são aquelas que o conjunto das famílias, célula mater da sociedade, não conseguiram resolver. Por conseguinte, o estado cuida daquilo que o conjunto dos municípios não resolveram, e a federação cuida daquilo que os estados não resolveram. Cria-se assim uma pirâmide, onde o topo (o governo federal) tem poucas atribuições, e dessa forma ele se torna mais ágil, menos burocrático, e consequentemente com menos poder regulador e com menos recursos. O Estado moderno no mundo inteiro tende a ser o contrário: uma pirâmide de ponta-cabeça onde o governo federal acumula cada vez mais funções e arrecada cada vez mais dinheiro, e o chefe de governo (presidente, primeiro ministro, etc.) é cada vez mais poderoso. O que devem então fazer os ensejadores do poder mundial? A primeira coisa é esfacelar as instâncias menores de poder, a começar pela primeira: a família; na outra ponta, devem esfacelar as próprias nações, seja pela unificação de nações promovida por governantes (como já ocorre parcialmente com a União Européia), seja pela destruição cultural e das identidades nacionais pelo multiculturalismo (também muito presente na Europa) ou seja pela própria guerra.

O indivíduo isolado, destituído de sua família, passa inevitavelmente a ser um dependente de outra coisa, outra organização de pessoas, que, em última instância, será o próprio Estado. Ser dependente do Estado é tudo que o governante quer das pessoas. Quanto maior essa dependência, maiores são os recursos e os poderes que os dependentes lhe dão para sanar suas necessidades. Até aqui fica claro o porquê da instituição familiar ser a mais atacada pelo modernismo e pelas políticas públicas que invariavelmente se guiam pelas ideologias políticas cripto-comunistas, como afirma Pascal Bernardin em seu livro Maquiavel Pedagogo. Apesar de o termo “comunismo” ter caído em desuso, a prática comunista está mais presente do que nunca, em infinitas formas e camuflagens. A metodologia marxista moderna, muito baseada nas metodologias da Escola de Frankfurt e na metodologia de Antonio Gramsci, são talvez mais marxistas que o próprio Karl Marx, e bebem na fonte da primeira fase do autor, fortemente influenciada pelo hegelianismo revolucionário.

Para encerrar, eu volto ao objeto do meu assunto: o jovenzinho universitário. Hoje é ensinado nas universidades que o mal do mundo está na liberdade de mercado, na livre iniciativa dos homens, na propriedade privada, na cultura judaico-cristã, na Igreja Católica, no conservadorismo, etc. O jovenzinho acredita que, lutando contra essas coisas, estará ajudando a criar um mundo melhor. Sem perceber, ele está comprando a corda que será usada no seu enforcamento. São justamente essas coisas que ainda garantem um pouco da soberania, da dignidade e da liberdade do homem no mundo. Sem isso, estará estabelecido aqui neste pobre lugar o reino de Satanás, quer você acredite em religião ou não.

8 Comentários

  1. anderson piu · · Responder

    Muito bom esse texto.

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  2. Espetacular!

    Os textos, por serem bastante profundos e esclarecedores, não poderiam ser tão frequentes, e, por isto mesmo, são todos dignos de registro, capazes de elucidar todas as panaceias que os poderosos insistem comercialmente em propagar, para alimentar a perda da existência, humana, profanada pela ignorância.

    Parab[ens!

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  3. Olá! Muito bom texto. Compartilho da maioria das opiniões (menos estado, mais liberdade, perigos da revolução gramsciana, etc…). São temas que abordo constantemente no meu blog. Inclusive, apesar de eu estar escrevendo pouco nos últimos meses, os jovens foram o tema da minha última postagem (http://www.viagemlenta.com/2016/03/Jovens-manifestacoes-urgentes-manifestacoes-ideais-para-o-futuro.html).

    Porém, resisto à ideia da defesa das nações. Não entendo muito bem sua defesa defendendo a manutenção cultural dos povos. A grande maioria das nações atuais foram formadas sufocando culturas, arrebatando de povos sua autonomia política. A União Europeia é perversa, mas não deixa de ser mais perversa do que a unificação espanhola, italiana e alemã no passado, que hoje são defendidas como “nações”. O tempo não pode apagar a origem de sua criação.

    Gostaria de entender o porquê de não defender o secessionismo. Seria o arranjo perfeito para a diminuição do controle, da opressão, do poder de um estado, além de garantir a manutenção das identidades culturais. No meu entendimento, o conservadorismo deveria, antes de defender as nações, defender os indivíduos. Enfim… é um debate que gostaria de ter tempo para ler e entender mais os pontos de vista que você colocou no texto. Já li Roger Scruton, mas nem ele conseguiu convencer-me definitivamente nessa questão rs.

    Abraço.

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    1. Olá André, parabéns pelo blog. Eu fico esperançoso de ver tanta gente surgindo e escrevendo coisas boas, e quebrando a hegemonia de esquerda (ao menos na internet). Eu sou só mais um no meio dessa multidão. Comecei esse blog mais como uma forma de organizar minhas ideias na cabeça (quando eu escrevo parece que as coisas ficam mais claras pra mim), e aos poucos as pessoas foram lendo e gostando. Fico agradecido por isso.

      Quanto a esse negócio das nações, confesso que não tenho uma opinião formada sobre isso. Não sei ao certo qual é o melhor critério pra definir territorialmente uma nação, mas acredito que deveria ser pela unidade cultural de um povo. Acho que essa unidade cultural mantém uma boa sintonia entre as pessoas de uma região e as fazem pensar e agir de uma forma mais fraternal e coletiva. A esquerda adora falar de coletivismo, mas é um coletivismo de classe, que é algo perverso e serve muito bem a política deles, que joga justamente com o conflito entre as classes.

      No meu ponto de vista o conservadorismo defende a soberania do indivíduo, mas não acima de tudo. A liberdade individual não pode ser irrestrita, porque se há um único indivíduo com liberdade total, significa que esse indivíduo tem poder ilimitado. É um tirano. A gente aprende com nossos pais e avós a velha frase “a minha liberdade termina onde começa a do outro”, e acho isso bastante certo. Nessa linha, o conservadorismo defende as liberdades individuais, porém dentro de um contexto de comunidade. Sou um entusiasta de um Estado menor (muito menor do que vemos hoje no mundo todo, em especial no nosso país), e acredito que a melhor forma de organizar uma nação, partindo do pressuposto que ela já esteja delimitada por uma unidade cultural bem definida, seja pelo princípio da subsidiariedade, muito bem definido aqui pelo príncipe Dom Bertrand: https://www.youtube.com/watch?v=Cvf7_8YtpQU

      Acho que, respeitando esses princípios (da unidade cultural e da subsidiariedade), nem precisaríamos pensar em secessões, porque as coisas já estariam bem arrumadas nos seus limites naturais, com um equilíbrio visível e com um Estado pequeno e eficiente. Quando um povo quer se separar de outro, é porque não se sentem pertencendo a mesma unidade. Isso deveria ser respeitado. Além disso, quando um Estado se torna imenso, ele se torna também expansionista, porque a sede por “escravos” só aumenta.

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      1. Olá Judite. Os elogios são extensivos ao seu blog e ao seu posicionamento também.

        Pois é, eu queria entender bem esses argumentos. Pois se a unidade cultural é o critério, temos hoje muitas nações que o agridem. Tem o ponto da unidade histórica também (que não deixa de ter o seu lado cultural). Veja o caso da Escócia dentro da Grã-Bretanha, berço das ideias liberais e da Common Law. E não, não vamos falar de coletivismo rsrs.

        Concordo com esses princípios. Mas acredito que eles sejam mais facilmente cumpridos em comunidades bem menores. São impossíveis, no meu entendimento, de serem viáveis no conceito que hoje, entendemos como “nação”, que exibe simplesmente um amontoado de pessoas e territórios sem uma unidade de fato. E que, pelo seu tamanho, fornece cada vez mais poder ao Estado.

        Sucesso!

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  4. Os universitários do Brasil além de muito burros, são também uns bando de militantes de esquerda!

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  5. Por favor, me permita um comentário adicional.
    O jovem acredita na teia de mentiras montada como se ele fosse um guerreiro da verdade guiado por um Merlin idealista. Só não avisaram que Merlin ganha, às custas dele, um salário de mais de 8000 Reais em início de carreira.
    Se comenta com eles isso, dizem que o professor fez por merecer.
    Ou seja, a meritocracia vale quando é para defender o Merlin…

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  6. Nossa, essa perspectiva de ação efetivamente transcendente do cristianismo, sobre o indivíduo e a sociedade, que você apresentou, acho que é mesmo um dos aspectos mais excelentes do signo de Cristo a iluminar a humanidade. Parabéns, muito bom esse esclarecimento: “…mas imitando os modelos de santidade que nos foram fornecidos por Deus. O cristão acredita que fazer isso já é criar um mundo melhor, e talvez isso seja a forma própria do cristianismo de revolucionar o mundo, como de fato revolucionou.”

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